Certa vez, um brother me chamou de iconoclasta, e me ofendeu por dois motivos: primeiro, por eu julgar não ser um ;e segundo, por ele acreditar que eu não sabia o que significava. Normal ; arrogância de advogados! Rs.
Já
se passaram uns três anos desse episódio, e hoje, ao me olhar no
espelho, afirmo com certeza : "eu sou um motherfucker
iconoclasta mesmo". Mas, como acontece com todo o meu modo de
viver, me vejo coberto de razão em sê-lo.
"Iconoclasta",
por definição, é alguém que costuma quebrar objetos de culto,
destruir imagens veneradas com devoção, e esse termo tem origem em
um movimento do século VII, onde a galera estava picandoladisgraça
mesmo. Obviamente, o movimento se foi mas o termo ficou, e o sentido
trazido permanece vivo, e agora, na figura de um destruidor de
ícones, um aviltador de cultos à personalidades, um ultraje a toda
forma de sacralização e blindagem aos que foram elevados, mesmo
sendo reles humanos, à condição de intocáveis.
Pois,
então, sou um íconoclasta mesmo!
Sou,
porque "ícones - ao mesmo tempo em que moldados - são também
moldadores da Cultura de um povo", se tornando uma espécie de
paradigma, de aferidor de medidas. Logo, percebe-se que, alguns
ícones não podem permanecer, pois com a sua permanência mantêm-se
vivos, também, os valores que eles representam e a que remetem.
Sou
- iconoclasta - porque, sendo a Cultura o verdadeiro elemento
preponderante na constituição de um povo, e sendo eu alguém que
escolheu tramitar exatamente nessa esfera fundamental - e
erroneamente colocada em um lugar periférico nos debates - o choque
torna-se inevitável.
Sou
íconoclasta, porque esse é o MEU MODO de defender as Instituições
- objetivas ou subjetivas - que nos foram legadas pelos antepassados,
pela tradição. Estas Instituições, sim, são icônicas ; e o são
por terem conquistado por meio do "Direito de Perenidade"
(conceito meu).
Sou
iconoclasta e principalmente, por ser um Conservador e Pessimista
Clássico. O que significa? Que parte importante do legado que recebi
é a de que "humanos não são confiáveis, e são inclinados às
suas próprias cobiças e interesses particulares". Portanto, as
Instituições criadas pelos mesmos para garantirem alguma
governabilidade, devem operar SEMPRE debaixo de um Princípio de
Mútua Observância : o popular "um espiando o trabalho e
proceder do outro,para que não dê merda". É claro como o
alvorecer que, num cenário desses - que é o melhor já
experienciado em nosso processo evolutivo - não sobra lugar para
alguém que seja tão devotado, venerado, e por conseguinte, bindado
dessa saudável desconfiança.
Não
há lugar para santos, ícones, "alma mais honesta do país",
ou, para histeria de alguns, "mito".
Sou,
sim, um iconoclasta, e onde houver um pequeno sinal de que um humano
comum está sendo santificado, sacralizado, messianizado, ou
mitificado, ali estaremos, eu e o meu kit de destruição!