"FERNANDINHO É PRETO, E EU TAMBÉM - Ou, dos infortúnios de viver em uma geração criada por quem, hoje, dela se ressente".
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Escrito
após a eliminação da Seleção Brasileira de futebol masculino, na
Copa do Mundo de 2018.
O
volante da seleção brasileira, Fernandinho, é dentre muitos outros
- pela enésima vez - vítima de comentários absurdamente injuriosos
: nas redes "anti" sociais, é claro.
Os
adjetivos são dos mesmos tons monótonos : associados à cor da pele
ou à digníssima senhora genitora ; ou ambos em uma só levada. É
escrôto isso, como sempre foi e será!
Fernandinho,
mais uma vez, mostrou que o uniforme canarinho é uma entidade
distinta, que muitas vezes, faz sucumbir jogadores de alto nível e
que atuam em Ligas e times idem. Duas Copas, e ele não foi bem. Nem
Paulinho (esse, para mim, sempre superestimado)!
Ainda
assim, ver um profissional sendo julgado por outra coisa, senão pela
eficácia - ou não - com que desempenha seu papel, é de uma
obtusidade espantadora, mas já habitual nessa geração.
Ora,
se as ofensas me incomodam, sendo eu também negro e passível de ser
julgado por qualquer coisa, menos pelo que desempenho? É óbvio! É
amargo, por tantos motivos que nem tenho ânimo pra elencar. Mas, eu
nasci preto, e me parece, morrerei preto, e oriundo de uma formação
que JAMAIS me estimulou a me orgulhar e me "empoderar", ou
o contrário, que seria assumir o moderno papel de vítima
ressentida.
Repudio
o que aconteceu com o Fernandinho, mas não com aquela repulsa típica
do proselitismo progressista, que se utiliza do ressentimento como
capital político e ideológico.
Repudio,
e me entristece muito, por confirmar a minha percepção marcadamente
pessimista de que, a decadência humana é um caminhão desgovernado
ladeira abaixo. Não há utopia que me salve da minha descrença em
um futuro e humano melhores!
O
que tem a ver o cu com as calças ; ou a situação envolvendo
futebol, Fernandinho, cor da pele , e a escrotidão nas Redes?
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Causa-me absurdo espanto ver alguns queridos, progressistas em geral,
se sentirem ofendidos e revoltados com um estado de coisas que, em
sua maior parte, fôra arquitetado por eles, quando destruíram
instituições e/ou relativizaram valores que ainda mantinham alguma
ordem possível diante das irracionalidades peculiares da convivência
humana coletiva.
Assim,
substituímos o racismo velado pelo falsamente problematizado ; a
vergonha da ocultação e subalternização pelo ódio ressentido e
revanchista, alguns até propondo "fogo aos racistas", numa
espécie de Ku Klux Klan às avessas.
Ora,
pôrra! Vocês não melhoraram caralho nenhum! Somente mudaram a
mesma desprezível questão para uma instância dominada por uma
verborragia sem nenhum efeito prático, substituíram uma segregação
por outra, e pior, praticamente geraram a atual geração: a mais
desrespeitosa, escrôta, e pior, estúpida de todas as eras! Pois,
pior que ser ignorante - na acepção correta do termo - é disfarçar
a obtusidade com um Doutorado em "Humanidades"!