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Será mesmo que essa não passa de mais uma “questão subjetiva”,
do tipo defendido pelos que afirmam: “o que é bom gosto pra você,
pode não ser pra mim”, ou vice-versa?
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Será que devo mesmo, a partir disto, elencar alguns Ícones das
últimas três gerações _por exemplo_ juntamente a algumas
produções “musicais” da contemporaneidade? Penso que não; digo
que não ! Clamo que jamais !
Quando
me deparo com alguma questão aparentemente problemática, ajo
conforme aprendi com a tradição grega , base do Ocidente:
perscrutar tal questão até o seu princípio, e a partir disto
reconstruí-la. Então, voltemos à Música com um olhar
“panorâmico”, e percebamos o caminho que a mesma percorre na
História das Civilizações. Não pretendo reescrever a História da
Música; e nem mesmo defender um “estilo” em detrimento de outro.
Em
tempos e épocas diferentes; entre tribos e nações que nunca
tomaram conhecimento uma da outra; e em qualquer dimensão humana que
tenha passado por esse nosso chão, a Música sempre esteve
entre as manifestações mais sublimes, significativas, relevantes de
cada povo. Em suas cerimônias e rituais mais importantes; nas
celebrações de maior êxtase, enfim, uma forma de expressão da
interioridade, uma manifestação de valores, princípios,
expectativas; e por algumas vezes, um busca por contato com a
Divindade.
Em
seu best-seller “Uma Breve História do Mundo”,
Geoffrey Blainey ,relata como figuras expostas em “parques
arqueológicos” no mundo inteiro são traços marcantes que apontam
para uma relação fundamental entre Homem e Música desde quando
aprendemos os primeiros modos de comunicar-se, há milhares de anos.
O mesmo pode ser testemunhado ao se ler “A Cidade Antiga”,
de Foustel de Coulanges, onde se encontra relatos da imanência da
musicalidade entre as primeiras “grandes civilizações
ocidentais”.
E
não seria necessário discorrer de modo prolixo aqui, falando sobre
a Música na Idade Média, entre os Modernos...; pois no fim, o faria
para corroborar sobre o mesmo discurso: que existe sim, um critério
que demarque, que afira, na discussão sobre o famoso “gosto
musical”: o chamo de “critério de relevância e
significado”. Minha geração é que não percebe isto !
Não
se trata de julgamento de valor moral; antes, de valor estético. Se
a Música é, foi, e será sempre uma expressão de determinada
cultura; então só me resta lamentar: coitados serão meus
descendentes ! Serão da geração que faz “música” com o
traseiro (bunda mesmo!), que consome lixo técnico, cultural, acima
de tudo existencial, sobre o pretexto de ser uma música “diferente”,
animada, um barato...! Triste geração: consome lixo como
entretenimento, mas que ainda arroga-se disto.
Sim;
entretenimento também compõe a musicalidade, sendo uma de suas
muitas facetas; mas Música sem o que a originou, estabeleceu-a,
legitimou-a como sendo essa “coisa” que tanto nos apela e
constrange, não é boa mesmo...!
E
assim têm sido desde o princípio das eras: o homem pondo na música
uma carga de valor afetivo, existencial, o que mais lhe apela
individualmente, o que possui uma relevância tamanha que chegue a
marcar sua própria cultura e etnia; é desse poder e fascínio da
Musa Euterpe (uma “deusa” grega da Música) a que me refiro, a
capacidade de mover multidões, unir em torno de algo uma comunidade,
expressar e perpetuar nas emoções as dádivas sagradas
compartilhadas ali, por todos.
Essa
é a “Coisa” que ,por mais diferentes que sejam as manifestações
culturais e temporais, atravessou toda a nossa História até aqui:
essa é a “boa” Música; a que dança em todos os ritmos, mas que
transcende, resiste, revoluciona, consola, transcende, humaniza,
diviniza.
A
Música têm como destino fatal, desde seu início, a ser
significadora entre os homens; cheia de apelo e sedução para o que
o exalta , o glorifica mesmo nas tragédias. Ela é popular, por que
é a alma deste povo que extravasa por meio dela, jamais supondo-se
“popular” como rebaixadora de nossa grandeza humana.
A
Música é dádiva dos céus aos homens, é nossa, em toda a sua
complexidade matemática, tanto quanto em sua simplicidade
existencial; é nossa para engrandecer-nos, e por meio dela
expressemos o que possuímos de mais nobre, transformador; inverter
essa ordem é repetir o que se vê em cada esquina: “música”
como instrumento de humilhação, vergonha, promiscuidade,
devassidão; ou no máximo de “animação”. O resultado é sempre
vazio, inócuo, irrelevante, produzindo gente com as mesmas
características do lixo que se presta a ouvir.