Umas das coisas que mais me chamaram a atenção - desde a infância - e que jamais entendi, é o que costumo chamar de "terceirização da responsabilidade". Essa falsa habilidade que desenvolvemos de, nunca mesmo, assumir a condução das nossas coisas, e por resultado, as consequências disto.
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Perdeu o emprego, ou não arranja um : a culpa é do "mercado".
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O colega foi promovido, e você não: resultado da política de
influência dentro da empresa.
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Seu parceiro (a) está em condição financeira e profissional mais
bem situada que você: a culpa é de qualquer coisa (se for o caso
da parceira, é por ela" ter uma buceta " e você não),
menos de sua falta de aplicação e investimento na formação ; ao
contrário dela(e).
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Você quase não têm amigos (e nessa me identifico) : a culpa é"
deles", que são um bando de traíras, menos sua, que é
antipático, egoísta, e antissocial.
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Seu casamento vai mal, ou está acabando (ou já acabou, e você não
quer aceitar) : a culpa é de deus, das más influências dos amigos,
da falta de comprometimento do parceiro ; mas nunca é sua, que é
opressor, desrespeitador, desleal, cruel, dominador, o próprio diabo
vestido de marido (ou esposa).
É
óbvio que, toda a experiência humana é caótica, irracional em
muitas vezes, e ao contrário do que místicos queiram acreditar,
injusta. Não há justa retribuição, nenhuma Lei inexorável de
Semeadura, e nenhum aparato teórico que encontre algum nexo ou
razoabilidade nas coisas do cotidiano. Sim, isso é autoevidente, e
se agarra à falsas esperanças quem assim deseja. Mas, convenhamos:
nenhuma busca por explicação, supostas causas, razões de seu
infortúnio, são honestas se começa sempre à partir do outro, das
externalidades.
Se
você é honesto, e quer mesmo garantir umas das poucas coisas que,
nesse chão de dores, ainda é garantido - a integridade do ser -
comece praticando o que diz o bom baianês:
-
Assuma suas pôrras!
Depois
disso, do que restar desse exame de conduta, tente fazer algo: caso
sobre mesmo algo. Pois, da maioria dos infortúnios dos quais
lamentamos, somos os responsáveis diretos.