Pular para o conteúdo principal

"Vide Cor Meum"; ou, um poema de despedida .


Sempre falou de amor, mas nunca o conheceu.
Apaixonou-se por uma mulher que jamais foi sua.
Viveu intensamente suas mágoas e dores!
Nem mesmo percebeu quando instalaram-se momentos alegres em sua vida:
- Não acreditava na alegria, no amor, e menos ainda nas mulheres.

Era fiel à dor, súdito das paixões amputadoras.

Dedicava-se à música, respirava música; jamais tornou-se músico.

Gastava-se com a família, diluía-se nela e por ela; mas nunca teve família.

Esmerou-se excruciante em ser modelo para os irmãos; porém, não ganhou irmãos.

Foi cético, simpatizante, crente, crítico, descrente, cínico...agora não se importa com nada disso. Isso mesmo: importa-se com o nada, e nada mais.

Não acreditava na “fé”, nos “irmãos” , na família...e chorava seu nada com música.

Esteve de luto enquanto vivia; adoeceu quando apaixonado.
Antecipou tragédias que jamais chegaram, agonizou mortes de gente que ainda está muito viva.
Seu coração era a agonia, a tragédia, a paixão, a morte...mas não se sabia vivo.


Amava o prazer, a bebida, o sexo, o calor de uma mulher:
-Mas, mulheres o congelaram, sexo lhe entediou, a bebida entorpeceu-lhe. O prazer? Na verdade nunca esteve lá, e eram somente suas projeções de carência.


Escolheu um pôr-do-sol , e abraçou uma árvore;
Pôs sua canção predileta a tocar: “Veja meu coração”, dizia a canção.
Pobre homem, ousava chamar de coração o buraco aberto e exposto em seu peito !

O sol se pôs, e a música tocou repetidas vezes;
A árvore abraçou-lhe com uma corda:
Enfim, pela primeira vez sentira a ânsia da vida que se preserva.
Mas isto lhe era suficiente:
- O sol se pôs nele, para ele; e a arvore abraçou-lhe com a força de um nó.

A música tocava “veja meu coração”... e assim ele se pôs com o sol, e sua vida se derramou na terra, e seu coração expôs-se aos corvos do céu;
A natureza lhe devorava o interior...e a vida deliciava-se ali... na morte:
- No abraço da árvore, no cair da noite...na exposição do coração.

Morreu como desejou ter vivido !!!!



Postagens mais visitadas deste blog

"The Seventh Seal": um memorial !

O que é a vida, senão a morte em contagem regressiva? Viver é caminhar lentamente em direção ao destino fatal de todos... O sorriso de uma criança um dia cerrará... As lágrimas das dores de tantos, secarão... A exuberância de um belo corpo, desvanecerá... A pujança arrogante de um corpo jovem, tarde ou não, adoecerá... Os olhos que se abriram, se fecharão para sempre... As palavras abundantes, silenciarão... Preocupações, queixas, dores, aspirações; já não serão... Pois tudo a que chamamos de vida é a prorrogação do deixar de ser... Morbidez? Perspectiva sombria? Melancolia ? Pergunte a cada ruga de seu rosto, a cada esforço que se torna mais pesado, Ouça as batidas de seu coração no silêncio de seu quarto, E tudo o que ouvirá é um brado de adiamento, uma negativa ao instante final. Não é a vida que permanece, é a morte que, misericordiosa para com muitos, prorroga sua estadia aqui. Ainda assim, nos iludimos na ânsia do “pra s

"Ao meu violão": gratidão ao amigo do peito.

Oh, meu amigo; mais uma vez somos só nós dois Sempre a falar você sempre a me ouvir. Mas, que importa se somos sempre só nós dois? Se somente contigo me sinto bem pra falar e até calar... Oh, meu amigo; somente tu conheces o que não digo à ninguém; Antes mesmo que fale me conheces pelo toque. Ninguém me compreende como tu, meu amigo... Às vezes tão alegre com um flamenco, ou romântico com um fado, E nos dias de muita expressão ouves até meu rock’n roll. Mas nos dias  que pesam as nuvens mais cinzas Escutas também minhas lamentações,  meus choros, As bossas, meus sambas-canções: me confortas nos momentos mais tristes. Oh, grande amigo; perdoa não ter lhe dedicado antes essa canção Estás sempre aqui a ouvir meu coração tão de perto, E a honrar essa amizade que de minha parte tem sido tão ingrata. Te prometo que à partir de hoje te honrarei muito mais do que antes Pois assim se constrói uma amizade tão forte...! Prometo te dedi

Sempre desconfie dos gurus e dos homens "de certezas".

Sempre transitei por TODO o território midiático do cenário político nacional (e alguns internacionais) , desde que comecei a ter um acesso mais constante à Internet, na época em que se pagava Hum Real por hora em Lan House. Brasil 247, DCM, Pragmatismo Político, Carta Capital, PHA, Vermelho. Org, The Washington Post, The Guardian, Manhattan Connect , Ceticismo Político, A Reacionaria, Andrew Klavan, David Horowitz, Slavoj Zizek, Bill Maher, Bill O'brien, Mídia Sem Máscara, Spotiniks, Roberto Pompeu de Toledo, Augusto Nunes, Reinaldo Azevedo, Diogo Mainardi, e o Xamã da Virgínia - Olavo de Carvalho - em suas "produções independentes". Vivia semelhante a pobre quando vê fuzuê no bairro, e corre logo pra compor a muvuca. Além, obviamente, das páginas hospedadas em servidores do Governo, onde podia baixar qualquer projeto discutido nas "Casas do Povo", e que eu julgasse relevante. O YouTube sempre foi uma "mão na roda", principalmente quando ain