Não
posso dizer como a coisa se dá no resto do mundo, mas aqui, desde
quando me entendo por gente, nunca vi a associação entre pensamento
e política. Aqui tudo é passional, afetado por ressentimentos,
orientado por identificações bem personalistas, populistas como em
toda a América Latina. A surpresa é ver que o acesso à informação,
decorrente do advento da WEB, parece ter piorado o processo.
Na
verdade, não deveria ser surpresa : os mecanismos das crenças são
e serão sempre os mesmos, e "a religião dos outros é sempre a
estranha e herética". Sim, no Brasil, política É religião; e
deriva dos mesmos processos cognitivos originadores das crenças.
Antes
que me entendam mal (como se me importasse), não quero dizer que se
trata de um rebaixamento da Política compará-la aos movimentos
religiosos: o que quero dizer é que ambos possuem naturezas
distintas. Na religião a experiência é puramente subjetiva,
individual, incomunicável e incompartilhável, de modo que se torna
tirânico impor essa mesma experiência a outrem. O que se pode
fazer, é somente compartilhar os efeitos imediatos dessa
experiência, e esperar que os ouvintes tenham ou não a mesma
experiência que você.
Mas,
Política, deveria ser uma atividade da praça pública, do confronto
honesto de ideias, de "razões" sobrepondo-se. Quando uma
decisão política é fruto de mera paixão ideológica, e pretende
ser aceita por todos, nada se difere dos maiores vexames
experienciados pelas mais tirânicas catequizações.