Não, não estou falando da "Mãe África", mas da minha família mesmo, e uma das minhas matriarcas é do "povo de santo"; mãe deles lá.
Ouvir
histórias de sua árvore genealógica faz você entender grande
parte do homem que você é, gostando ou não do resultado.
Compartilhei
também com minha avó a incompletude que sinto - e que pretendo
manter - por não me identificar com sua vocação (é, a gente
conversa assim, sem arrudeio). Gosto das melodias e ritmos de preto,
da literatura de preto, da comida de preto, da comunidade de preto,
mas as manifestações religiosas, para mim, não são sedutoras.
Pelo contrário, me repelem, e eu as repilo. Lamentei com ela o fato
d'eu jamais alcançar a plenitude da "pretitude", e ela só
me respondeu - com a tranquilidade da sabedoria envelhecida - de modo
claro : "não se preocupe com isso, Matheus, pois seus
'caminhos' são outros que não são os do Axé". Mal sabe ela
que "caminhos" não são bem o meu forte!
Me
identifiquei mais com aquela velha e quase octagenária foto, a mesma
desde criança, que ao olhar sempre me veio à mente a mesma certeza:
"caralho, pivete, esse véi sisudo aí na foto é o seu futuro".
Hoje, pela primeira vez, vendo que sempre me intrigo com essa foto, a
véia largou o doce: "ver você é o mesmo que ver seu bisavô,
Matheus, pois ele era um homem que tinha muita dificuldade em
acreditar nessas coisas espirituais".
Me
senti compreendido pelo véio ranzinza da foto que fica na sala, que
sempre reconheci imensa familiaridade. Numa família cheia de tantos
crentes e de diversas formas de fé, a Dúvida está ali representada
no patriarca...e oitenta anos depois, Eu Sou o velho da foto!